segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Espelho

Nossas vidas se entrelaçam e
vivemos um fim de ano imenso de tão intenso...
Por esta razão, trago a vocês mais um poema de Maria Augusta:
Pessoa de fibra que reflete a alma de muitas mulheres brasileiras!


"Não sabia mais que batom vestia a boca que o espelho refletia
e para mim já não sorria
e para mim já não cantava
a mesma voz profeta, poeta.
Meu corpo em preto e branco
emoldurado por cores de flores vividas
tinha mãos desfalecidas,
descumpridas no tempo.
De cima do palco
a platéia vazia me via,
mas eu, saudade, já não.
Já distante do ventre das águas donde vim,
das belezas da mulher que dança,
do riso à toa das descaminhanças.
Se gritava na carne a morte
girava, sorte, uma gente gitana, guerra
de cantes e ouro, de seda e terra.
E no leito do rio escuro de silêncio e dores
tudo andaluz
chega-me à luz um carmim.
Pintei a alma
e chorei enfim".