quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Fotossíntese

Um ditado, um bom conselho,
Um poema, uma canção...

E segue a rima... ou não!


Fotossíntese

"Para que uma nova florada floresça
É necessário que a rega seja feita com lágrimas
O sal tem a função de dar a pitada do amor
Para que caiam as pétalas mortas
Dando espaço para as novas, bem vivas...

Se a flor se mostra rosa
Há de ter alguns espinhos
Diz a sabedoria, perceber quando podá-la
Se arriscamos no corte cedo
É conveniente proteger os dedos

Como não há receita para a boa floração
É pertinente que ela se dê com atenção
Preservasse a raiz
Reforçasse o bom adubo
E apenas como espectador
Observar seu crescimento
Esperando com ternura o dia da fotossíntese."

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Espera

Pela fresta da janela
Há dias de ver o sol
Há dias de ver a chuva

Agora penso que é tempo
de olhar a chuva
e esperar a tempestade passar
Antes da chuva: a ventania
Depois que ela finda: a poesia...

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Nunca aprendi rimar

Maria Augusta Assirati, a Guta, é presença marcante em minha vida. Seus versos já foram postados por aqui. Guta faz prosa cheia de doçura em reposta ao meu "Não sei fazer poemas". E peço permissão por licença poética para titular suas rimas. Lhes apresento:

Nunca aprendi rimar

"E eu que nunca aprendi rimar
aquele mar de pensamentos,
que onda riam, onda calavam
a areia fina de meu peito,
inventei de amar a poesia

Fiz do verso a alegoria de meus medos
da palavra, a fantasia dos dias
em que eu, nua, vestia preto

Deitava assim uns traços vãos
na imensidão de um papel qualquer
resignado e reto

Das linhas curvas brancas de minhas febres
escapavam vozes baixas, tímidas
que a tinta entre os dedos das mãos desnudava lentamente
vivenciando aquelas frágeis frações,

Eram mais que poesia
Eram uns pedaços da liberdade descuidada
despudorada
Eram esboços de uma beleza invisível,
Inseparável do espaço oculto de meus prazeres e dores

E eu que nunca soube rimar
conheci minha íntima poesia
E aprendi a chorar palavra
a sorrir poema
sem rima
sem graça
sem vergonha"

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Não sei fazer poemas

Minha agonia é delirante
Quase redundante de tão abundante
Sai rima de onde não espero, não quero
Escrevo de forma a jogar palavras no papel
E tenho contigo uma Lua de Fel
Veja que a rima: me persegue!
Como se simples fosse o que sinto
Complexo é como me comporto
E tensa, há dias que não me suporto
Irritante, a rima se impõe

Louca, louca, sou louca por ti
Inspiro e transpiro nosso amor
Mas hoje, paradoxalmente, minha ira ecoa
a falta e a presença de humor

Sou perseguida por ela: a rima
Desisto...
Não sei fazer poemas
Sei chorar pingado, versos apagados
Num coração despudorado,
Preenchendo o vazio do papel branco pautado...

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Do cinza ao azul

A cor é poesia
A saudade, melancolia
O silêncio, sabedoria
Nosso amor, só sintonia
Veja, a cor que me invade
Varia do cinza ao azul
Há dias de tempestade,
onde só a tristeza persiste
Há dias ensolarados,
onde a alegria me assiste
Há dias de ventos fortes,
onde aponto meu dedo em riste
Há dias de calmaria,
e o que me dói já não resiste
Te cerca de cores fortes,
vivas e brilhantes
E vive tua saudade,
certa de que é só por instantes!

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

A orvalhar

Andei pensando
Rodar o mundo
Comprar passagens
Fazer milhagens
Sair sem rumo

Não ler notícias
Não ver TV
Nem te escrever

Não é que eu queira
Te abandonar
É que no Cerrado
Em dias secos
Me falta ar

Mas paro e penso
É muito trabalho
Fazer as malas
Seguir viagem
Não te levar

Façamos assim:
Enlouquecemos
Pegamos a estrada
De madrugada
Sem avisar

Dormindo ao relento
Juntemos nossos corpos
Em movimento intenso
Cansados e suados
Quase a orvalhar

Por fim:
Te abraço fortemente
Só penso em olhar pra frente
E desejo sinceramente
Teu beijo pra lá de quente
Sempre a me acompanhar

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Despoetizar

Era do outro lado da rua
Depois da faixa amarela
Onde me sentia segura
E não tinha espaço pra pequenas surpresas
É deste lado da rua
De onde vejo o sol se esconder
Onde não há segurança possível
E tudo pode me surpreender
Amanheço e anoiteço
Esperando me acostumar
A não sentir mais saudades
Do que deixei depois da faixa amarela
Até que as lembranças possam amarelar
Dizem que é longo meu aprendizado
E os dias passam arrastado
Os versos saem acanhados
É como despoetizar...

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Opala 93

Marcos Toscano é figura que nos empresta alegria e nos deixa convictos da necessidade de sermos autênticos. Sua brasilidade é contagiante! Posto aqui um pouco da sua prosa: descrição exata de uma natureza simples, verdadeira e por vezes cínica.
Com vocês: Opala 93!


"Ei, moça bonita,
Andei pensando em ir-me embora
A fuligem que cai com asa de chumbo
Tem obscurecido o mais claro dos meus pensamentos
E a espessa fumaça que embaça os céus diurnos
Faz troça dos meus sonhos de verão.

Veja, querida,
Que não tenho qualquer ilusão:
Sei bem do custo de vida
E do problema fundiário
Acompanho bem de perto
O regime tarifário da respiração

Mas a verdade é que mês passado
Num momento de plena compreensão
Juntei todos meus trocados e fui até a loja de usados
na esquina da Amélia com a Rua do Futuro
E enfim, comprei um belo Opala 93

Sei que você vai protestar
E me acusar de perdulário
Já ouço o argumento incontestável
Sobre o tamanho do meu salário
Eu sei, meu bem, eu sei...
Mas é só na aparência que comprei
Um mero Opala 93

Comprei foi um pedaço de vento
Uma vista de verde, um quilômetro de estrada
E quando você estiver preparada
Vai ser nesse Opala que vamos embora daqui".

sexta-feira, 29 de abril de 2011

A cidade que é dele

Entre o céu um tanto cinza
E a falta de cores dos seus paredões de edifícios
Entre a ausência de natureza
E um mar de carros apressados
Entre o que me incomoda
E uma promessa de vida futura no lugar que é dele
Escolhi não escolher
Esperando o momento que meus olhos serão mais generosos
Esperando o dia em que irei me apaixonar
E esperando, decidi escapar
Tão diferente de onde vim
Tão diferente do meu conceito de cidade
Tão diferente de mim
Tudo em volta me apavora
Como se seus concretos
Me prensassem, me oprimissem
Como se a fumaça que sai dos seus carros
Me sufocasse, me suprimisse a alegria
Pobre de mim:
Intransigentemente exigente
Descabidamente leviana
Pois há que se encontrar poesia
E pintar a vida com outra paleta de cores
Percebendo que o cinza que veste suas ruas
Pode ser o azul envergonhado
Ou o verde maltratado...
Não é minha essa cidade
Não é meu esse lugar
Mas hei de encontrar poesia
E lhe pintar com uma paleta de cores
No cinza pingar minha prosa
Ver nascer o arco-íris
Ir do branco ao cor-de-rosa...

terça-feira, 26 de abril de 2011

A cidade que é minha

Lembro-me dos dias frios
Embora deles não sinta saudade
Apenas do vento forte a bater em meu rosto
Do alívio do café bem quente
Da sensação de dormência nos pés
Lembro-me dos dias mais curtos e das noites mais longas
Embora disso não tenha saudade
Apenas de esquentar o corpo ao sol
Da comida caseira da minha avó
Do conforto de dormir com pesadas cobertas
Tempo de ter tempo de sentir sensações
Tempo de ter tempo de nada fazer
Esperando a próxima estação,
que chamamos Verão
Onde as noites são mais curtas e os dias mais longos
Me enchendo assim de saudade
Levada pelo balanço do mar
e pela lembrança inebriante dos que quero bem
E quando o Verão vai embora, vou-me embora também
Pois sei que essa cidade é minha, só minha e de mais ninguém...

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Poesia de Botequim

Para quieto
Parafraseio
Para meus ídolos
Sem devaneio
Para você
Para mim
Para menino
Tem dó dessa rima ruim
Para inventar,
meu conselho:
comece pelo meio
e pule logo o fim
Na história da vida da gente
um enredo de verdade
só se dá desse jeitinho:
nós, sempre mocinhos
eles, sempre bandidos
Para quieto
Parafraseie
Para você
Para mim
Para menino
Tem dó dessa poesia de botequim.

Prosa Vadia

Me sobra alegria
Na falta de melancolia
Versos desaparecem,
com eles minha poesia
Não que a felicidade
me tome a inspiração
Minhas rimas não florescem
De tão sereno meu coração
Não há métrica na endorfina
Minha paz é rotineira
Nem soneto hoje combina
Escrever é quase um vício
Sem horário, dia certo,
promessa ou disciplina
Fico a despoetizar
Desinspiradamente
Desinfreadamente
uma prosa vadia...

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Espelho

Nossas vidas se entrelaçam e
vivemos um fim de ano imenso de tão intenso...
Por esta razão, trago a vocês mais um poema de Maria Augusta:
Pessoa de fibra que reflete a alma de muitas mulheres brasileiras!


"Não sabia mais que batom vestia a boca que o espelho refletia
e para mim já não sorria
e para mim já não cantava
a mesma voz profeta, poeta.
Meu corpo em preto e branco
emoldurado por cores de flores vividas
tinha mãos desfalecidas,
descumpridas no tempo.
De cima do palco
a platéia vazia me via,
mas eu, saudade, já não.
Já distante do ventre das águas donde vim,
das belezas da mulher que dança,
do riso à toa das descaminhanças.
Se gritava na carne a morte
girava, sorte, uma gente gitana, guerra
de cantes e ouro, de seda e terra.
E no leito do rio escuro de silêncio e dores
tudo andaluz
chega-me à luz um carmim.
Pintei a alma
e chorei enfim".