sexta-feira, 17 de julho de 2009

Da Natureza Dela

(Uma versão bem humorada para a história de Santa Clara)

... e o humor dela variava de acordo com o tempo lá fora. Quando o sol enchia o dia era como se tudo nela também se enchesse: o sorriso, os gestos, as palavras. Quando o cinza cobria o céu visto da sua janela era como se tudo nela também se cobrisse: o sorriso, os gestos, as palavras. E quando a chuva forte destruía as flores do seu jardim também era como se tudo nela fosse destruído: lábios cerrados, gestos contidos, sons inaudíveis.
Mas, apesar de seus dias, serem comandados pelo tempo lá fora, era maravilhoso vê-la, perceber sua relação intrínseca e secular com a natureza. Era como se sentisse a tristeza, a beleza, o frescor dos dias e das noites. Era como se unicamente ela sentisse as quatro estações. Sim... as quatro estações estavam expressas em seu sorriso, gestos, palavras. Era como se ela fosse senhora e escrava do tempo.
E os dias chegavam, as noites se iam, os anos passavam... Cresceu, virou moça. O tempo, senhor e escravo de seus dias perdeu lugar... E então, ele chegou como uma tempestade de verão, aquela que vem depois de um forte calor: refresca, renova, arrepia, confunde... O Amor. Sim, o amor chegou! Era ele agora quem ditava o humor da menina-moça. E para tantas mudanças, quase diárias, nenhuma explicação... Quem a conhecia, espantava-se: - Como pode? Olhe o sol brilha lá fora! Porque estes lábios cerrados, tantos gestos contidos, estes sons inaudíveis? Não... eles não percebiam, ela amava. Amava desesperadamente, um amor imaturo, estranho. E se o sol brilhava ou não lá fora pouco lhe importava, queria mesmo era ver Francisco. Francisco... sim era como o amor se chamava. Se por ele cruzasse, é assim... na rua, era como se o sol lhe sorrisse, e o dia mesmo chuvoso lhe enchia de alegria, encanto e tagarelice. Mas se dias o Francisco lá no final da rua não despontasse, que tormenta, que tempestade a povoar seus pensamentos mesmo que o sol quente anunciasse o verão.
Francisco se foi, assim como se foi o verão daquele ano... Outros Franciscos vieram, é certo seus nomes mudaram. E as variações de humor se foram... Mas que encantadora mulher ela se tornou, que espontâneo sorriso, que elegância de gestos, que suavidade de sons... Era assim agora a natureza dela. Era clara, também no nome: Clara. Só lamentava o fato de agora seu humor só variar cinco dias no mês e não ser mais senhora nem escrava do tempo e do amor, mas de uma tal TPM. Aquela... da natureza delas!

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